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sábado, 11 de agosto de 2007

Desalento & Cotidiano

Depois do cotidiano leve, livre e libertino das férias voltamos ao desalento! E assim fazendo jus a esta volta... a volta da vidinha mingua e repetida que acostumamos como cotidiano, voltando a fazer todo dia múltiplas ações todas elas senão repetidas, mecânicas. Voltamos então a ver todo dia as mesmas pessoas e dar o mesmo sorrisinho pro-forma, comer um prato diferente a cada ceia porém todos ao mesmo sabor, o tempero não muda pois até dizemos "O de sempre por favor...!". E nos curtos intervalos de recreio falamos e ouvimos aquelas mesmas potocas a respeito de outrem, já que não vale falar de si mesmo(a), a não ser que se incremente algumas mentirinhas pra ficar realmente interessante. E voltamos para casa, para o âmago de nossa família. E isso é sempre, mesmo que toda sua família se resuma ao seu cachorro (gato), a uma foto ou seu diário. Mas no fim de cada dia vamos dormir com esperança, esperança de que amanhã será diferente. Não o amanhã depois do hoje, mas o amanhã do futuro... que será todos os dias uma coisa só PERFEITO!


>Desalento<

de Álvares de Azevedo
(
Por que havíeis passar tão doces dias?
)

Feliz daquele que no livro d’alma
Não tem folhas escritas
E nem saudade amarga, arrependida,
Nem lágrimas malditas!

Feliz daquele que de um anjo as tranças
Não respirou sequer
E nem bebeu eflúvios descorando
Numa voz de mulher...

E não sentiu-lhe a mão cheirosa e branca
Perdida em seus cabelos,
Nem resvalou do sonho deleitoso
A reais pesadelos...

Quem nunca te beijou, flor dos amores,
Flor do meu coração,
E não pediu frescor, febril e insano
Da noite à viração!

Ah! feliz quem dormiu no colo ardente
Da huri dos amores,
Que sôfrego bebeu o orvalho santo
Das perfumadas flores...

E pôde vê-la morta ou esquecida
Dos longos beijos seus,
Sem blasfemar das ilusões mais puras
E sem rir-se de Deus!

Mas, nesse doloroso sofrimento
Do pobre peito meu,
Sentir no coração que à dor da vida
A esperança morreu!...

Que me resta, meu Deus? aos meus suspiros
Nem geme a viração...
E dentro, no deserto do meu peito,
Não dorme o coração!



E segue o cotidiano...!